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Direto de Brasília

República de Dominghetti: PM dava carteirada com nomes de autoridades


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Protagonista de uma das principais acusações feitas até agora na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, o cabo da PM e vendedor informal de vacinas Luiz Paulo Dominghetti Pereira tinha por hábito citar autoridades de vários escalões da República a seus parceiros de negócio. Em nenhum caso, contudo, o mercador conseguiu demonstrar que algum figurão de fato estava minimamente envolvido em suas negociatas.

Em suas “carteiradas”, Dominghetti usou nomes que vão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), passando pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e por governadores e prefeitos. Também vendeu credenciais de famosos de fora do Brasil -em uma conversa de WhatsApp, tentou convencer um interlocutor de que uma empresa do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump estaria por trás de uma suposta oferta de vacinas contra a covid-19.

Eis os nomes que aparecem nas mensagens extraídas do celular de Dominghetti, às quais o Poder360 teve acesso.

  • Jair Bolsonaro – presidente;
  • Michelle Bolsonaro – primeira-dama;
  • Lula (PT) – ex-presidente;
  • Ricardo Barros (PP-PR) – líder do Governo na Câmara;
  • Eduardo Pazuello – ex-ministro da Saúde;
  • Elcio Franco – ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde;
  • Roberto Dias – ex-diretor do Departamento de Logística da Saúde;
  • Rui Costa (PT) – governador da Bahia;
  • Flávio Dino (PSB) – governador do Maranhão;
  • Mauro Mendes (DEM) – governador de Mato Grosso;
  • Gim Argello (PTB) – ex-senador;
  • Bruno Covas (1980-2021) – prefeito de São Paulo até meados de maio.

Em 8 de março deste ano, Dominghetti encaminhou mensagens a Rafael Francisco Carmo Alves, outro vendedor autônomo ligado à Davati Medical Supply –empresa que fez suposta oferta de 400 milhões de doses de vacina ao Ministério da Saúde. O cabo da PM mineira falou como se Bolsonaro estivesse pedindo um certificado da empresa para consumar a venda.

“Manda o SGS. Urgente. O Bolsonaro está pedindo. Agora”, dizem os textos repassados a AlvesReprodução

O parceiro de negócios responde: “Dominghetti, agora são 5 [horas] da manhã no Texas. E outra! Jamais será enviado uma (sic) SGS sem contrato assinado.” A SGS é uma empresa privada suíça que emite certificações de produtos. A Davati tem sede no Estado do Texas, nos EUA.

O autor das mensagens repassadas por Dominghetti é identificado nas conversas de WhatsApp como “Amauri Vacinas Embaixada”, apesar de a pessoa ter se apresentado como Tom no 1º contato com o cabo da PM. Trata-se de um emissário do presidente da associação Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), reverendo Amilton Gomes de Paula. Ligado à igreja Batista, ele vendia acesso político não só ao Ministério da Saúde como à Presidência.

Depois das citações a Bolsonaro para apressar os vendedores da Davati, Dominghetti e Tom riem da carteirada.

Dominghetti e um contato ligado ao reverendo Amilton Gomes de Paula dão risadas após usarem o nome de BolsonaroReprodução

Convocado à CPI da Covid, o líder religioso tinha depoimento previsto para esta 4ª feira (14.jul.2021), mas apresentou atestado médico apontando uma crise renal que demandaria 15 dias de repouso. Perícia médica do Senado confirmou o problema, e a oitiva foi adiada.

Dominghetti, por sua vez, falou à comissão em 1º de julho. Alegou que recebeu pedido de propina do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias em um jantar em Brasília em 25 de fevereiro deste ano. O cabo da PM tentava negociar uma suposta oferta de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca em nome da Davati Medical Supply, ainda que a fabricante tenha sempre ressaltado que só negocia diretamente com governos nacionais.

Na semana passada, Dias chegou a ficar detido pela Polícia Legislativa a mando do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), sob acusação de falso testemunho. Ele confirma o encontro com Dominghetti, mas nega qualquer pedido de vantagem indevida. Responsável por levar o vendedor informal ao restaurante na região central de Brasília, o coronel Marcelo Blanco -outro convocado da CPI- também diz que jamais houve qualquer menção ao pagamento de propina.

Apesar de sempre evocar a acusação de Dominghetti sobre suposto pedido de propina, Aziz mostrou descrença ao falar na 3ª feira (13.jul.2021) sobre as citações a autoridades: “Tem pessoas que mostram uma intimidade que nunca tiveram, né? Principalmente para se dar bem, né?

NAS MÃOS DE DEUS

O reverendo Amilton entrou na jogada da negociação de vacinas com Dominghetti no início de fevereiro. Por meio da Davati, ofertou lotes de vacina ao então diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz.

Em dado momento das conversas sobre as supostas articulações políticas, Dominghetti disse a interlocutores que a primeira-dama Michelle Bolsonaro estaria “no circuito” junto com o reverendo. Não há evidência de que isso tenha acontecido.

Enquanto dizia negociar vacinas com a Saúde por meio da associação Senah e da Davati, Dominghetti sugeriu a outro contato um caminho alternativo: tentar vender vacinas para o Instituto Lula, que o teria “procurado”. Ele falava com Serafim, vendedor autônomo ligado à farmacêutica Cifarma.

Cabo da PM mineira diz a um interlocutor que teria sido procurado pelo Instituto Lula sobre a compra de vacinas contra a covid-19.

Um contato salvo como “Renato Compra Vacinas Chapecó” parece ter chegado a ideia semelhante: “O que acha de nós (sic) oferecer para o PT Lula falou que estava organizando compra de vacinas. Talvez seja verdade.

Poder360.com.br

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